O Escândalo dos “Fantasmas Salariais”
Moçambique acaba de expor um dos maiores escândalos salariais da sua história recente: mais de 18 mil funcionários públicos inexistentes foram identificados e removidos da folha do Estado.
A revelação foi feita pelo Ministro da Administração Estatal e Função Pública, Inocêncio Impissa, durante as celebrações do Dia Internacional de Acesso Universal à Informação, em Xai-Xai.
Segundo o ministro ao Jornal "O País", tratam-se de pessoas falecidas, aposentadas ou simplesmente inexistentes, mas que, graças a esquemas manipulados por gestores de recursos humanos, continuavam a receber salários regularmente.
Corrupção com “assinatura digital”
Os salários fantasmas não caíam em contas vazias.
Eram absorvidos por redes fraudulentas que exploravam falhas no sistema, deixando claro que a corrupção não é apenas manual, mas também digital.
“Temos estado a trabalhar para purificar as fileiras… Havia funcionários já falecidos, mas ainda na folha de ativos. O sistema continuava a pensar que estavam vivos”, disse Impissa.
A falta de atualização intencional no sistema permitia que a morte de um funcionário se transformasse em renda de corrupção para os vivos.
O Prejuízo: Um Cálculo que Assusta
Apesar da gravidade, o Estado ainda não revelou o montante perdido.
Cada funcionário fantasma tinha um salário diferente, dependendo da categoria em que era falsamente classificado.
Mas a conta implícita é brutal:
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Se o salário médio fosse de apenas 15.000 meticais por mês,
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Multiplicado por 18.000 fantasmas,
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O desfalque superaria 270 milhões de meticais mensais – mais de 3,2 bilhões ao ano.
Isso equivaleria a financiar milhares de professores, médicos ou jovens recém-formados que hoje buscam emprego sem sucesso.
Questão que Fica no Ar
Se 18 mil fantasmas foram desativados, significa que havia 18 mil salários reais disponíveis?
E se sim, por que não foram imediatamente convertidos em novas admissões para jovens desempregados?
Risco de Reincidência
Especialistas em governação alertam: a purga pode ser apenas o início de uma longa faxina.
Enquanto não houver transparência digital em tempo real, as portas para que fantasmas retornem ao sistema continuam escancaradas.
Impissa prometeu investigações e responsabilização criminal dos gestores envolvidos, mas a sociedade civil questiona se as “mãos invisíveis” da corrupção terão coragem de cortar a si mesmas.
Se desativar 18 mil fantasmas não abre 18 mil empregos reais, o que de fato significa “reforma” na função pública?