Moçambique assiste a mais um capítulo da crescente tensão entre o Presidente da República, Daniel Chapo, e o líder do recém-legalizado partido ANAMOLA, Venâncio Mondlane (VM7).
ANAMOLA fez um pedido oficial para ser incluído no Diálogo Nacional Inclusivo (DNI), porém, a reposta formal, não chegou. Por outro lado, aquando a auscultação do DNI, Chapo surpreendeu ao afirmar:
“Não é preciso carta para participar do Diálogo. Todas as forças vivas da sociedade estão convocadas.”
Aparentemente conciliatória, a mensagem carrega uma contradição política: se “todas” as forças estão de facto convocadas, por que razão partidos como o ANAMOLA sentiram necessidade de formalizar um pedido por escrito?
A resposta de VM7 aos jornalistas que ousaram perguntar, se as palavras do Chapo, são a resposta esperada pelo ANAMOLA:
Venâncio Mondlane não deixou a provocação passar em branco. Em tom firme, respondeu que “a política séria não se responde pela boca, mas por escrito”, exigindo que o Governo estabeleça compromissos formais e transparentes sobre o diálogo. Para Mondlane, confiar apenas em declarações públicas é abrir espaço para manipulações posteriores.
Video:
A disputa por legitimidade
A divergência entre Chapo e Mondlane não é apenas semântica: trata-se de uma luta pela legitimidade no espaço político moçambicano.
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Chapo tenta projetar uma imagem de abertura, mas sem ceder demasiado terreno institucional que obrigue o Governo a assumir compromissos formais.
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Mondlane, por sua vez, aposta na formalização escrita como forma de assegurar que a inclusão do ANAMOLA não será apenas simbólica, mas efetiva.
A visão crítica de Roberto Júlio Tibana
O economista e analista político, Dr. Roberto Júlio Tibana, vê no episódio uma contradição perigosa:
“O Governo fala de inclusão, mas resiste a formalizá-la. O que temos é um convite aberto que soa mais a manobra cosmética do que a verdadeira vontade de partilhar o poder. Sem compromissos escritos, não há garantias — há apenas retórica.”
Segundo Tibana, o dilema é claro: será que o Diálogo Nacional Inclusivo será um instrumento genuíno de reconciliação nacional ou apenas mais uma encenação para legitimar o poder no exterior e silenciar vozes críticas no interior?
Questões em aberto
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O Governo está realmente disposto a incluir novos atores políticos ou apenas pretende controlar a narrativa do diálogo?
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O ANAMOLA, com a sua entrada tardia no cenário político formal, poderá transformar esta exigência de formalidade escrita numa bandeira de credibilidade?
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O silêncio institucional — ao invés de respostas formais e documentadas — não seria uma forma de esvaziar o peso político da oposição emergente?
O embate entre Chapo e VM7 transcende a questão de uma carta: é um teste à maturidade democrática moçambicana. Se o diálogo se reduzir a discursos e fotos oficiais, perderá legitimidade antes mesmo de começar. Mas se houver compromissos claros e transparentes, poderá marcar o início de uma nova fase de inclusão política no país.