A MULHER DO “SISE” QUE REAPARECEU: Segredos, Denúncias e Silêncio à Força?
Maputo – O caso de Bella Nota, uma cidadã que surgiu em transmissões ao vivo nas redes sociais afirmando ser do SISE (Serviço de Informações e Segurança do Estado) e que fez revelações comprometedoras sobre figuras de topo da FRELIMO e do Presidente Daniel Chapo, mergulhou Moçambique num misto de curiosidade, medo e suspeita.
Após dias de vídeos em que denunciava alegadas tentativas de internamento contra a sua vontade e prometia expor “segredos do regime”, a família veio a público declarar que Bella Nota está hospitalizada e sob “acompanhamento médico especializado”. No comunicado que o Jornal Carta de Moçambique, pediram desculpas às “pessoas lesadas” pelas declarações e atribuíram as falas da mulher a problemas de saúde mental.
Mas a narrativa oficial não dissipou dúvidas. Pelo contrário, levantou ainda mais perguntas.
O que disse Bella Nota nas suas “lives”?
Em transmissões que se tornaram virais, a mulher afirmou:
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Ser membro do SISE, com passagem por cargos de direcção;
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Que detinha informações sigilosas sobre o funcionamento interno da instituição e as conexões com a elite política;
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Que havia tentativas de silenciá-la por meio de internamento forçado.
Essas declarações colocaram em xeque a credibilidade das instituições moçambicanas e criaram a percepção de que segredos incômodos poderiam estar a emergir em plena crise de confiança política.
O silêncio conveniente
O comunicado da família — que pediu desculpas às figuras atingidas — foi interpretado por muitos analistas como um gesto de contenção forçada. Perguntas inevitáveis emergem:
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Quem escreveu realmente o comunicado — a família, ou alguém “acima”?
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Bella Nota foi internada para tratar-se ou para calar-se?
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Se as suas alegações eram apenas fruto de instabilidade mental, por que razão geraram tanta movimentação e preocupação política?
O contexto mais amplo
Este episódio surge num momento em que Moçambique enfrenta tensões políticas profundas:
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O debate sobre a legitimidade das eleições de 2024;
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A ascensão de Venâncio Mondlane e o seu partido ANAMOLA, que desafiam a hegemonia da FRELIMO;
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O crescente descrédito popular em relação às instituições, vistas como instrumentos de poder e não de justiça.
Neste cenário, as transmissões de Bella Nota, ainda que desorganizadas, tocaram num ponto sensível: o papel do SISE como guardião do regime, acusado de perseguir opositores e controlar a narrativa nacional.
Questões que permanecem
O caso Bella Nota é mais do que uma história pessoal. É um teste à transparência do Estado moçambicano:
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Foi Bella Nota silenciada?
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Até que ponto o SISE atua como polícia política da FRELIMO?
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Houve manipulação do estado de saúde mental dela para neutralizar as suas denúncias?
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E se parte do que ela disse for verdade? Que segredos do regime podem estar escondidos?
Uma verdade incômoda
Num país onde jornalistas, activistas e críticos enfrentam processos, censura ou intimidação, o caso Bella Nota expõe a fragilidade entre o que é oficial e o que é real.
O episódio também lança um alerta: quando até uma mulher que se apresenta como ex-membro dos serviços secretos é tratada como “louca” por expor segredos, que espaço resta para o cidadão comum questionar os poderosos?
Este caso deve ser visto apenas como um drama familiar de saúde mental, ou como mais um sinal de que em Moçambique quem ousa falar contra o regime é rapidamente silenciado — seja com tribunais, exílios ou hospitais?