Daniel Chapo, Presidente da Républica (reprodução internet) |
“A Mozal está a propor as suas tarifas e o Governo, através da empresa pública HCB, que fornece, vende e exporta energia elétrica a Escom, é preciso deixar claro isso, está, neste momento, a discutir as tarifas, porque, com base nas tarifas que a Mozal está a propor neste momento, a serem aceites aquelas tarifas, a HCB pode colapsar”, falou ao País o Presidente.
O silêncio de muitos que têm negócios milionários com a energia de Moçambique foi quebrado esta semana pelo Presidente da República, Daniel Chapo. Com um discurso firme, o Chefe de Estado revelou uma disputa que, até agora, parecia confinada aos bastidores: a pressão da Mozal sobre a Hidroelétrica de Cahora-Bassa (HCB) para reduzir drasticamente o preço da energia.
Segundo Chapo, as tarifas exigidas pela gigante do alumínio seriam tão baixas que poderiam levar a HCB — um dos pilares estratégicos da soberania energética nacional — ao colapso financeiro. A declaração é mais do que um alerta: é um marco de reposicionamento político, económico e até diplomático.
1. Uma luta de gigantes: Cahora-Bassa vs Mozal
A Mozal, uma das maiores exportadoras de Moçambique, opera com altíssimo consumo energético. A produção de alumínio exige energia em escala colossal e, historicamente, a multinacional sempre negociou condições especiais. Mas agora, a pressão por cortes agressivos ameaça transformar essa "parceria estratégica" em uma espécie de chantagem económica.
Chapo deixou claro que o Estado não pode permitir que um dos maiores patrimónios nacionais seja sacrificado em nome de lucros privados. “Não é possível pedir preços que, na prática, destruiriam a sustentabilidade da HCB”, disse, numa mensagem direta, sem meias palavras.
2. O dilema: desenvolvimento ou dependência?
A questão central não é apenas o preço da energia. É a relação de Moçambique com as suas multinacionais. De um lado, a Mozal gera milhares de empregos indiretos, contribui para o PIB e fortalece as exportações. Do outro, consome energia em proporções descomunais e envia grande parte do lucro para fora do país.
O Presidente, ao expor o conflito, coloca em cima da mesa um dilema antigo: será que Moçambique está a construir um desenvolvimento sustentável ou apenas a alimentar uma dependência camuflada?
3. Cahora-Bassa: símbolo de soberania ameaçada
A HCB não é apenas uma empresa. É um dos símbolos mais fortes da independência económica do país, recuperada após décadas de luta pela reversão da barragem. A ameaça de colapso não é apenas técnica — é política e simbólica. Permitir que interesses externos definam os preços que podem fragilizar a HCB seria, na prática, um retrocesso histórico.
4. O recado de Chapo ao mundo
Mais do que um aviso à Mozal, a declaração de Daniel Chapo é um recado ao mundo empresarial: Moçambique quer investimento estrangeiro, sim, mas não à custa da sua soberania. O tom firme do Presidente coloca o país num patamar novo de negociação, rompendo com a tradição de cedências silenciosas a multinacionais que exploram os recursos nacionais sem equilibrar ganhos.
5. E agora?
O que se segue é um jogo duro. A Mozal dificilmente abandonará Moçambique, pois o acesso à energia barata de Cahora-Bassa é um dos seus principais trunfos mundiais. Mas a firmeza de Chapo pode abrir caminho para uma renegociação mais justa — onde o país não se ajoelha, mas negocia de pé.
No fundo, o Presidente abriu a caixa de Pandora: a discussão sobre quem, de fato, está a lucrar com os recursos de Moçambique. E a pergunta que fica é inevitável: será que outros sectores estratégicos também vivem reféns da mesma pressão silenciosa?
👉 Este não é apenas um conflito empresarial. É uma batalha pela alma económica de Moçambique.