QUASE ESQUECIDO! Morre António Oliveira, o “Xitonhana” – O Herói dos Transportes que Fez História em Moçambique


O país acordou com uma notícia que mistura dor, memória e contradição histórica: António Oliveira, mais conhecido como Xitonhana, fundador da empresa Oliveiras Transportes e Turismo Lda, morreu em Portugal, vítima de doença.

O tributo do Presidente Chapo

O Presidente da República, Daniel Chapo, lamentou publicamente a morte do empresário, destacando-o como um verdadeiro pilar da mobilidade nacional:

“Trata-se de uma pessoa que constitui um marco na história dos transportes no país e que faz parte do imaginário popular do Sul de Moçambique. Xitonhana é, sem dúvidas, um exemplo de dedicação que os mais novos deveriam seguir.”

Na sua mensagem de condolências, Chapo recordou que, mesmo em plena guerra civil de 16 anos, Xitonhana manteve os autocarros a circular, ligando províncias e comunidades, sempre com princípios de segurança, previsibilidade e responsabilidade.

Um pioneiro que virou lenda

Fundada em 1954, em Chibuto, Gaza, a empresa Oliveiras Transportes e Turismo tornou-se um dos símbolos da ligação entre cidades e aldeias moçambicanas. Nos anos de guerra, quando estradas eram alvos militares e outras transportadoras desistiram, os autocarros de Xitonhana resistiram.

Para milhares de moçambicanos, viajar nos “carros da Oliveiras” era mais do que transporte: era um acto de confiança e um elo com a esperança de mobilidade. Não por acaso, o nome do fundador entrou para a cultura popular, sendo respeitado não apenas como empresário, mas como alguém que ajudou o país a mover-se quando tudo parecia paralisado.

O colapso da empresa

Paradoxalmente, no mesmo momento em que o país presta homenagem ao homem, a sua obra empresarial enfrentou o descalabro. Sob gestão do filho, António Oliveira Júnior, a Oliveiras Transportes e Turismo anunciou em 2007 falência, justificando a decisão com a insustentabilidade dos custos.

A falência deixou 153 trabalhadores no desemprego, criando um ambiente de tensão. Muitos consideram a indemnização proposta “irrisória” e rejeitam a modalidade de pagamento faseado sugerida pelo patronato, exigindo liquidação imediata.

O legado e a contradição

A morte de Xitonhana e a falência da sua empresa escancaram uma contradição que marcará a sua memória: de um lado, a imagem de um visionário que atravessou guerras e crises para manter Moçambique em movimento; do outro, a realidade de uma empresa que não resistiu às pressões económicas modernas e deixa centenas de trabalhadores à deriva.

O desafio agora é como preservar o nome de Xitonhana na história sem ignorar os conflitos laborais que mancham o final da sua trajectória empresarial.

Mais que luto, um debate nacional

O episódio obriga Moçambique a debater não apenas a importância de pioneiros individuais, mas também a fragilidade estrutural do sector dos transportes, onde empresas históricas não conseguem competir com custos crescentes, tarifas desajustadas e ausência de políticas de incentivo.

Xitonhana sai de cena como lenda e alerta: mostrou o que um homem pode fazer pela mobilidade de um país, mas também deixou claro que sem modernização e justiça social, até os gigantes podem cair.

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