Na abertura da 1ª sessão extraordinária da Comissão Executiva do partido ANAMOLA, Salomão Moyana, declarou que o partido liderado por Venâncio Mondlane, representa um fenómeno inédito no cenário político moçambicano.
Moyana afirmou que, desde a introdução do multipartidarismo no início da década de 1990 e da luta da RENAMO pela democratização, “nunca existiu um partido que preocupou tanto o regime como este”. Para ele, a ANAMOLA desperta uma mobilização popular que, até então, não se verificava em formações políticas emergentes.
O dirigente acrescentou que o apoio ao partido vai além de simpatia política. “Estamos diante de um advento que nunca aconteceu no país nos últimos 50 anos. Há cidadãos que já estão dispostos a aceitar sacrifícios — incluindo detenções e agressões — em nome de um partido que, até há pouco tempo, nem sequer existia legalmente”, destacou.
A declaração de Moiane surge num momento em que a ANAMOLA começa a ganhar projeção mediática após a sua aprovação oficial como partido político. Analistas sublinham que, embora ainda seja cedo para medir o seu impacto eleitoral, a narrativa de “renovação” e “resistência” em torno de Venâncio Mondlane pode vir a alterar a dinâmica da oposição tradicionalmente dominada pela RENAMO.
O desafio, segundo observadores, será transformar este entusiasmo popular em estrutura organizativa sólida, capaz de competir nas eleições gerais de 2028. Para já, a ANAMOLA apresenta-se como um ator novo que pode influenciar não apenas a oposição, mas também a forma como o regime no poder encara a contestação política no país.
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Análise Internacional
A emergência da ANAMOLA encontra paralelos em outros contextos africanos onde novos movimentos conseguiram romper a hegemonia de partidos históricos de oposição.
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Zâmbia (2021): O United Party for National Development (UPND), liderado por Hakainde Hichilema, conseguiu capitalizar o descontentamento popular e transformar anos de mobilização em vitória eleitoral, derrotando o partido no poder após décadas de domínio.
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Quénia (2010s): Movimentos como a Coalition for Reforms and Democracy (CORD) surgiram em resposta ao cansaço com as lideranças tradicionais, dando nova energia ao debate democrático, mesmo sem conquistar o poder imediato.
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Senegal (2024): A ascensão do jovem opositor Bassirou Diomaye Faye mostrou como novas narrativas podem mobilizar eleitorados saturados com partidos históricos, mesmo em contextos de forte controle institucional.
No caso moçambicano, a ANAMOLA enfrenta o desafio de se consolidar sem fragmentar ainda mais a oposição. O sucesso dependerá não apenas da figura de Venâncio Mondlane, mas também da capacidade do partido em estruturar-se nacionalmente, evitar divisões internas e apresentar propostas políticas que transcendam o mero descontentamento com o regime.