Magaliesburg, África do Sul – O ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano lançou um dos mais duros diagnósticos dos últimos anos sobre a crise africana, afirmando sem rodeios que a corrupção sistémica e a má governação estão a empurrar o continente para ciclos intermináveis de instabilidade política, social e económica.
Durante a sua intervenção no Diálogo Africano de Paz e Segurança, realizado em Magaliesburg, Chissano falou com a clareza de quem já esteve no epicentro das complexidades africanas e conhece os bastidores do poder. Em entrevista à SABC News, o ex-estadista moçambicano advertiu que sem instituições fortes e confiáveis, não há futuro para África.
O VEREDITO DE CHISSANO
“Precisamos de construir instituições públicas credíveis. É aí que começa a verdadeira democracia. Sem instituições sólidas, a corrupção infiltra-se em todos os níveis, a confiança desaparece e a instabilidade torna-se inevitável”, afirmou Chissano, num tom que soou mais a alerta do que a simples análise.
ELEIÇÕES COMO EPICENTRO DA CRISE
O ex-presidente destacou ainda que um dos maiores gatilhos de violência no continente tem sido o processo eleitoral.
“A violência pós-eleitoral tem aumentado na África. Isto mina a legitimidade dos governos e difama todo o processo democrático. Eleições mal geridas, acusadas de fraude e manipulação de votos, transformam-se em faíscas que incendeiam países inteiros”, alertou.
Os seus comentários refletem uma preocupação crescente com episódios recentes de violência eleitoral em países como Nigéria, RDC, Quénia e até Moçambique, onde acusações de fraude e intimidação mancharam processos que deveriam ser a celebração da democracia.
UM ESPELHO DURO PARA OS GOVERNOS AFRICANOS
As palavras de Chissano ressoam num momento em que a África abriga alguns dos índices mais altos de crescimento económico do mundo, mas também os mais elevados níveis de desigualdade e corrupção. Especialistas apontam que o fosso entre riqueza e pobreza, aliado à fragilidade das instituições, cria terreno fértil para golpes, insurgências armadas e protestos violentos.
UMA MENSAGEM QUE ECOA PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS
Ao assumir um tom tão frontal, Chissano não apenas lança luz sobre os dilemas internos africanos, mas também envia um recado à comunidade internacional: sem enfrentar a corrupção e a má governação, não há investimento sustentável, nem paz duradoura.
PERGUNTAS QUE FICAM
Será a classe política africana capaz de se auto-reformar?
Os líderes atuais estão dispostos a sacrificar privilégios em nome de instituições fortes e transparentes?
Quantas eleições violentas mais o continente terá de enfrentar até que se aprenda a lição?